Everton Braz*
Presidente do Podemos do Rio Grande do Sul
Acaso estivéssemos ainda no século XIX, compreenderíamos tal cenário político tão belicoso, em campo de batalha sangrento, no furor da Revolução Farroupilha. De 20 de setembro de 1835 até hoje, intuo que evoluímos na sã consciência tal qual correu o tempo. Ou, ao menos, assim haveria de ser. Baixemos as espadas, pedras e foices, façamos da ideia a arma desta nossa agitação democrática. Eis o desejo de um Brasil que clama em silêncio, temeroso ao caos no futuro que a instabilidade econômica tende a nos responder.
Puxa daqui, depois empurra para lá e, pasmem, não fomos a lugar nenhum. O Brasil não pode se transformar em fortalezas ideológicas de súditos enclausurados em seus castelos de convicções inquebrantáveis. O Brasil é maior que o amor à direita e a luta da esquerda. O Brasil, aliás, é bem mais do que esse grenalismo agudizado pelos megafones. Há um caminho do meio, apesar de a própria imprensa tratá-lo como uma representação minguada, sem lado e sem sabor. E, quem diria, chegamos ao estopim porque desaprendemos o que os líderes do Centro se negaram a abandonar: o diálogo.
São urgentes a conciliação, a mediação e a cura através da razoabilidade. Ora, o que ocorreu no último domingo não passou de um atestado de insanidade pública, um escoadouro para toda a tensão política que vem fervilhando de Norte a Sul. O romantismo partidarizado da eleição precisa dar licença para que a gestão pública exista. O que requer, sim, crítica e posição, mas no campo intelectual das matérias estruturantes e progressistas. Viramos reféns de alegorias discursivas e pautas simbólicas enquanto há um Brasil com fome, pobre, desempregado e com medo.
A olhos nus, existe a necessidade de um caminho político capaz de promover o entendimento entre os opostos, uma passagem que segue o curso do futuro, para frente. Ainda bem, o Rio Grande do Sul tem ensinado isso ao Brasil: sobrevivemos ao esmagamento do extremismo permitindo que um projeto de gestão não fosse interrompido. Pela primeira vez, saberemos o que é dar tração a um modelo de governança com perenidade e respostas maiores que o tempo de um curto mandato.
A convergência para a construção não pode ser demitida do almanaque dos partidos e dos políticos. Até porque, se disso a política não for capaz, então é qualquer outra coisa que não política.