Líder do Podemos no Senado e autor do projeto que extingue o foro privilegiado, o pré-candidato a presidente da República Alvaro Dias foi entrevistado pelo Correio Braziliense.
O senador Alvaro Dias (Podemos-PR) entra na corrida para a Presidência da República apostando que o baixo nível de rejeição ao seu nome será o diferencial nas eleições de 2018 contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que estão à frente nas pesquisas de intenção de voto. Com 43 anos na política, o parlamentar vem sendo pouco lembrado no cenário, mas garante que a corrida está só começando e acredita ter chances. Uma das bandeiras do senador será o combate aos privilégios e, para isso, dá o exemplo. “Abri mão da aposentadoria de ex-governador há 26 anos. São cerca de mais de R$ 10 milhões nesse período”, afirma.
Dias também defende um forte enxugamento do tamanho do Estado e, principalmente, do Congresso. Para isso, quer promover uma verdadeira reforma política com a redução de 20% dos integrantes da Câmara e de um terço do Senado. “Hoje, uma reunião de líderes na Câmara mais parece um comício. Isso inviabiliza o processo legislativo”, diz. Na avaliação dele, uma campanha presidencial que custe mais de R$ 200 milhões, como ocorreu em 2014, “é roubo”.
Para o historiador e ex-governador do Paraná, o próximo presidente precisará lidar com novas reformas trabalhista e previdenciária, mas a essencial que precisará ser feita é a tributária, reduzindo a carga de impostos do contribuinte para estimular a economia. “O governo arrecada mais e o povo paga menos. Tive uma experiência minúscula diante do problema nacional no governo do Paraná, onde havia grande sonegação na área da carne. A alíquota do ICMS era de 17%. Reduzimos para 7% e a receita aumentou em 300%”, destaca.
O senhor está em campanha?
Esta eleição foi antecipada. Quando o governo é ruim, bate a vontade de mudar rápido e aí há uma precipitação, inclusive, as antecipações ocorrem até em análises de política, de pesquisas porque há uma pressa, uma angústia. Alguns imaginam que estamos com o quadro definitivo para 2018, mas sequer estamos na preliminar do processo.
O senhor diz que o governo não está bom, mas, mesmo com 6% de aprovação da população, ele tem o apoio de grande parte do Congresso. Isso não representa alguma coisa?
Isso reflete a cultura da política brasileira. Tenho 43 anos de mandato eletivo e nunca vi um presidente da República, por mais impopular que seja, ter minoria no Congresso. Lamento que essa maioria, muitas vezes, é conquistada a um preço exorbitante, como ocorre atualmente com esse balcão de negócios. O Congresso virou um almoxarifado a serviço do Executivo quando se instala uma verdadeira feira persa. Esse sistema foi clonado e transplantado também para estados e municípios e é a causa de tantos males que afligem o país hoje.
Qual a principal bandeira de campanha?
É exatamente a ruptura com esse sistema. As pesquisas mostram que a sociedade busca um candidato novo, um outsider, fora da política atual. Vejo diferente. O eleitor quer experiência administrativa e passado limpo, alguém com coragem para combater a corrupção e com experiência administrativa. Essa história do novo surge até um pouco em função do (Emannuel) Macron (presidente da França), mas muitos esquecem que ele tinha larga experiência administrativa. O que a população busca é a alternativa de uma ruptura com o sistema atual.
Como o senhor pretende fazer o eleitor se identificar com as suas propostas? Há alguma semelhança com o Podemos espanhol, que é de esquerda?
Não temos nada a ver com o Podemos espanhol. Só o nome. Aqui se preferiu, desde o início colocar como inspiração o “Yes, We Can”, do (Barack) Obama (ex-presidente dos Estados Unidos). Mas também temos uma aproximação maior com a proposta do Macron, que é exatamente a caminhada pelo centro, valendo-se das virtudes possíveis de serem encontradas na direita e na esquerda. A população quer distância dessa dicotomia de rótulos. Melhor que essa nova política chegue através de alguém que a defende isso há muito tempo.
E o senhor acha que se encaixa nesse perfil, mesmo com tantas mudanças de partido?
Sem o receio de ser mal interpretado, posso dizer que defendo a nova política há 43 anos. Sempre fui um contestador do sistema. E, por essa razão, sempre inquieto e desconfortável, fui mudando de siglas por questões éticas. Nunca mudei de partido porque os partidos não existem. Existem siglas para registro de candidaturas. Agora, me encontro em um movimento e espero que ele se torne um dia um partido político.
O senhor é autor do projeto que extingue o foro privilegiado. Irá lutar pelo combate aos privilégios?
Essa é uma das minhas bandeiras. Tenho várias propostas que, se fossem aprovadas, estaríamos eliminando os últimos resquícios de privilégios de autoridades contidos na Constituição. E quem combate os privilégios deve abrir mão dos seus. Eu abri mão da aposentadoria de ex-governador há 26 anos. São mais de R$ 10 milhões nesse período. E, há 10 anos, abri mão da verba indenizatória, de R$ 15 mil por mês, e do auxílio-moradia, de R$ 5,5 mil por mês. O fim dos privilégios é uma exigência da sociedade e uma questão de inteligência da classe política. Ou mudamos ou seremos atropelados por essa vontade irresistível de mudança que há hoje.
E o que mais defende?
A minha proposta é de ruptura com esse sistema. É uma reforma não só no Executivo, mas no Legislativo e no Judiciário. Ela começa por reduzir o número de estatais federais (hoje 149). Temos que reduzir esses cabides de emprego. No Judiciário, a mudança é em relação ao modelo de escolha de ministros dos tribunais superiores, estabelecendo a meritocracia. Já o Legislativo precisa ficar mais enxuto, econômico e qualificado. É preciso uma redução de senadores, de três para dois por estado, e de deputados, em 20%. Hoje, uma reunião de líderes na Câmara mais parece um comício. Isso inviabiliza o processo legislativo.
Como fazer esses enxugamentos?
Com uma reforma política. A última não pode nem ser apelidada de reforma política. Foi um arranjo que tinha um objetivo: o fundo eleitoral. Isso é legislação em causa própria. Não acredito que o país possa alcançar os índices de crescimento econômico compatíveis com sua grandeza sem substituir esse sistema.
Mas o texto reduziu os custos das campanhas.
A campanha será muito mais barata e menos corrupta, desde que haja uma fiscalização eficiente. Fiquei assustado quando vi que, por exemplo, a ex-presidente Dilma Rousseff gastou mais de R$ 300 milhões e que o (senador) Aécio Neves (PSDB-MG) gastou mais de R$ 260 milhões… Isso não é campanha. É roubo. O essencial é um programa de rádio e de televisão e as redes sociais. Esse sistema de arrecadação por meio da internet, com doações de pessoa física, é mais adequado, porque inibe o processo de corrupção.
Já há um vice?
O vice tem o seu momento. Como disse no começo, todos nós estamos muito apressados. Temos até julho. Seria uma precipitação. Não vamos queimar a largada. O que posso adiantar é que ele não será uma escolha geográfica, nem de popularidade. É conceito. Será alguém que o eleitor vai olhar e ver que essa pessoa tem condições de exercer a presidência se houver necessidade.
O senhor tem aparecido com números entre 1% e 2% das intenções de votos espontâneos nas pesquisas. Isso é reversível?
Na verdade, tenho 6% na simulação de voto. Mas 1% espontâneo é ótimo porque eu existo. No Sul, por exemplo, chego a 20%, mas ainda estamos muito longe da campanha eleitoral. A verdade é que muitos defendem uma nova política, mas não se desgarram dos velhos conceitos. Não há o entendimento de que, para ser bem sucedido, será preciso ter grandes alianças. As pesquisas ainda não apontam a realidade.
Neste momento em que o Congresso é mal visto por conta da Lava-Jato, quais as chances e um parlamentar ganhar as eleições?
A Lava-Jato muda mesmo o cenário eleitoral a favor daqueles que tiveram comportamento ético. Esses parlamentares serão valorizados até porque já foram testados. O que chega agora é imprevisível. É um salto no escuro. Num campo minado de corrupção, quem sai ileso tem de ser valorizado. É inevitável. E tem acontecido. Quando a pesquisa vai medir a rejeição onde sou conhecido, ela é mínima, de 7%, em 43 anos de mandato eletivo. Isso não pode ser ignorado pelo eleitor.
Mas, nas últimas pesquisas de intenção de voto, em todos os cenários, o ex-presidente Lula está na frente. O segundo é o deputado Jair Bolsonaro…
Isso é uma questão de interpretação. Lula e Bolsonaro estão inviabilizados pela rejeição. Em uma campanha, você pode reduzir a rejeição, mas é muito difícil porque é nela onde os fatos são expostos. Se há uma rejeição agora, imagina no decorrer da campanha. No caso do Lula, pela lei, ele se tornará inelegível.
O Lula ainda tem força para transferir votos?
Ninguém consegue eleger ninguém. Há uma manifestação de simpatia por quem o apoia, mas, na hora do voto, o que vai prevalecer é o desempenho do candidato. A eleição está aberta. Não há nada decidido. E, evidentemente, aqueles que têm mais possibilidade são os que têm menor rejeição. O cidadão comum só se aproxima do processo quando ele começa e se torna mais acalorado.
E a reforma da Previdência?
Não há dúvida de que há a necessidade de uma reforma da Previdência, mas é preciso modernizar o sistema previdenciário. O que o governo faz é um estardalhaço que torna a Previdência o calcanhar de Aquiles da administração federal, e não fala da dívida pública. O essencial em uma reforma é eliminar conflitos e não alimentá-los. Essa reforma não foi discutida, principalmente, no Senado. A Casa tem ficado à margem, como na reforma trabalhista. Virou um mero chancelador.
Por isso o senhor votou contra a reforma trabalhista?
O meu voto foi mais simbólico. Sempre defendi a reforma trabalhista, mas entendi que meu voto tinha que ser do protesto em relação à forma e ao modelo adotado pelo governo, que, em vez de eliminar privilégios e conflitos, preferiu estimular os conflitos.
E a reforma tributária?
Essa é essencial. O governo não fala muito sobre ela porque não tem estratégia para o futuro, só pensa no que arrecada hoje. E arrecada muito e não quer perder receita num primeiro momento. Não entende que a redução da carga tributária vai fazer com que a roda da economia gire com mais força. Tive uma experiência minúscula diante do problema nacional no governo do Paraná, onde tínhamos uma grande sonegação na área da carne. Os frigoríficos sonegavam. A alíquota do ICMS era de 17%. Reduzimos para 7% e a receita aumentou em 300%.
Quem seria seu ministro da Fazenda?
Toda vez que você cita um nome assim com tanta antecedência, você arruma um amigo e muitos inimigos.
Qual o risco de os eleitores buscarem um salvador da pátria como foi lá em 1992, quando o Fernando Collor se elegeu sendo o “caçador de marajás”?
O Brasil mudou bastante, não acredito que qualquer salvador da pátria sobreviva muito tempo. A análise da população ocorrerá com a preocupação do futuro. A escolha infeliz pode reeditar a tragédia política que nós estamos vivendo hoje. Talvez com mais força.
O senhor acredita que esses nomes do Judiciário que aparecem de vez em quando, como o do juiz Sérgio Moro ou do ministro aposentado Joaquim Barbosa teriam chance?
As pesquisas falam de experiências administrativas. Esse é o momento adequado para a área judiciária, que está com prestígio popular. Às vezes, é preciso distinguir o que é conceito e o que é voto. Um nem sempre traz o outro. Mas, os nomes citados, certamente seriam muito bem-sucedidos eleitoralmente. Eles trariam grande experiência para o Legislativo. Essas pessoas significam que a população deseja também mudança na política. Além de uma corrida eleitoral, é uma corrida pela sobrevivência. A renovação é uma expectativa. Se nos basearmos nas pesquisas, ela vai ocorrer, mas precisamos esperar para ver na prática se essa leitura está correta.
E os temas polêmicos? Qual sua posição sobre o projeto da escola sem partido, aborto e o porte de armas mais flexível?
Há situações em que é inevitável o porte de arma e temos que estabelecer normas rigorosas para permitir o uso. Vamos buscar especialistas para elaborar um mecanismo competente. Sobre o aborto, acho que as normas vigentes são suficientes. Não vejo a necessidade de falar sobre isso novamente na campanha. Escola sem partido nem deveria ter discussão. É evidente. Temos que ter a escola que queremos, mas é importante discutir os problemas do país na escola.