Estamos em uma Crise. Não apenas o Brasil, mas o mundo. E não falo da crise econômica, criminalidade ou corrupção. Falo de algo pior; da crise de representatividade. Somos 74% da população que não é representado por nenhum partido, que não acreditam no sistema, 3 em cada 4 pessoas que ninguém os representa. Para poder entender os motivos, precisamos primeiro voltar no tempo e história.
Iniciando pela Grécia, em um tempo onde homens livres, debatiam as formas de governo, tempo de Platão e Aristóteles, surgiu a palavra Democracia, Demo povo, e kratia (força poder), formam a força do povo. E politikus, dos cidadãos que se dedicam a Polis. Ela nasceu quando um grego chamado Sólon decidiu propor um novo sistema de governo para Atenas em oposição ao regime autoritário e as severas leis impostas à cidade pelo legislador Drácon, patrocinado pela aristocracia que comandava Atenas. A nova constituição das regras estipulava que todas as decisões referentes à vida dos atenienses deveriam ser tomadas com a participação do povo através da eleição dos governantes e deliberação em praça pública. Surge assim a representatividade na ágora Grega através da participação direta dos cidadãos atenienses, excluídos mulheres, escravos, estrangeiros e crianças.
No mesmo local em que nasce, a Democracia adormece, na mão de impérios da Força, Fogo e Fé, alterando o modelo democrático a um sistema de um Divino Imperador que devia ser obedecido. Lembram de Júlio César? Como Imperador não era dos mais democráticos. Nesse novo período, de séculos de conflitos, de força da Igreja e do poder divino, vamos das trevas a escuridão. Passam mais de mil anos entre guerras e o povo no corte da espada para a democracia voltar a acordar, inspirada pela criação da prensa, espalhando novas ideias iluministas por toda a Europa.
Precisamos aguardar até a pena ser mais forte que a espada para as ideias de mudança, da fé versus a razão, fazer nascer uma nova geração de pensadores, como Rousseau e Montesquieu, e inspirar as pessoas a lutar por mudanças. O despertar, quando ocorre, em meio a uma crise econômica e moral, contagia as ruas da França, ao ponto de em 1789, se tornar uma revolução. Assim iniciamos uma nova orientação econômica, inspirada na Liberdade, Igualdade e Fraternidade onde o poder político saiu das mãos dos divinos reis e dos nobres e passou aos burgueses, surgindo uma nova ordem econômica mundial. Nessa nova ordem, o estado cresce, a população aumenta e a demanda por um governo mais participativo faz nascer nosso modelo atual, da tripartição dos poderes e dos representantes da população. O impacto da Revolução Francesa assombra todas as casas reais na Europa, em um fenômeno que rapidamente se espalha pelo mundo. Da prensa vamos a Imprensa, da carta, ao rádio, da independência da América Espanhola aos Estados Unidos da América. Somamos ainda conflitos e mais conflitos em escalas cada vez maiores. De uma revolução industrial a primeira guerra mundial, uma revolução russa, da ideologia política como propaganda, da comunicação em massa, uma segunda guerra mundial e até as super potências em uma Guerra Fria – motivados pela velha ideologia dicotômica de nós contra eles, mantida por uma mídia de um para muitos.
Continuamos avançando, agora com mais velocidade e tecnologia, com muros caindo, crises surgindo e governos mudando, saímos de um mundo analógico para uma economia digital, de pessoas sendo informadas, para pessoas se conectando. Deixamos um modelo de sermos informados, para estarmos conectados. Deixamos a TV para as telas do computador e celular. Uma nova revolução, pela informação, em um novo Iluminismo, trocando cartas, livros ou cavalos, pelo seu Facebook e mensagens no Whatsapp. Vivemos em um novo pacto social, onde a Internet, celulares e redes sociais mudaram a forma de viver, de trabalhar, de circular pelas ruas da cidade e de viajar. Mudamos e nesse mundo já não é mais possível governar as pessoas com as mesmas regras que nasceram junto com a prensa. Estamos em um novo passo, onde tudo mudou. Ou quase tudo.
Vivemos em um mundo digital do Século XXI com um sistema político analógico das mesmas regras do Parlamento Frânces do Século XVIII. Um tempo que insiste em usar papéis, selos, carimbos e chancelas. Um mundo do passado, que já não sabe nos escutar. Essa é a nossa crise, não apenas no Brasil, mas no mundo. Queremos ser ouvidos, ser parte, queremos participar. O mundo mudou e a política não. Essa é a nossa crise, essa é nossa nova era política, essa é a crise de representatividade e essa é a nossa revolução.