- Por Renata Abreu
Meu coração de mãe sangra, mas não posso me calar diante de tamanha violência praticada contra uma criança de apenas 10 anos. Dez anos! Essa menina merece carinho e proteção e não ser exposta a mais abusos e traumas. Se já não fosse suficiente o que passou nesses anos de dores físicas e emocionais, ela teve de encarar lobos e bruxas saídos dos contos dos Irmãos Grimm a lhe causar mais sofrimentos.
Uma infância destruída por estupros constantes e a gravidez jamais desejada e talvez nem compreendida por ela, uma criança de apenas 10 anos. Se pudéssemos ler seus pensamentos, eles diriam “socorro, me ajude!”. Medo, vergonha e culpa são alguns dos sentimentos que acompanham essa menina, silenciada por quatro anos por não saber a quem pedir socorro, por pensar que ninguém acreditaria nela e ou por nem saber que estava sofrendo violência sexual.
Façamos uma regressão, voltemos à nossa infância, o que fazíamos nessa idade? Brincávamos, éramos crianças. Mas, e essa menina … Meu estômago embrulha só de pensar nas atrocidades que a garotinha passou. E imaginar que neste momento quantas outras crianças estão passando por isso. Sinto vontade de gritar. E de chorar!
No Brasil, ocorrem 6 internações diárias para procedimento de aborto legal em meninas de 10 a 14 anos, vítimas de estupro. Segundo dados tabulados pela BBC News Brasil no Sistema de Informações do SUS, desde 2008 foram registrados 32 mil abortos envolvendo crianças nessa faixa etária. E se esses números já nos chocam, o Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostra a cruel realidade: uma menina é estuprada a cada 15 minutos no país!!!
E quando uma dessas atrocidades diárias é descoberta por acaso, durante consulta para verificar um ‘simples’ mal-estar, logo materializam-se lobos e bruxas a sentenciar, como numa inquisição, que a criança assuma sua maternidade. Oi? Como assim? Ela tem só 10 anos de idade!
Politizar tragédias e violar as leis que garantem, entre outros direitos, o anonimato e a preservação da vida dos menores de idade que sofreram violência sexual é injetar uma dor adicional em vidas já tão destruídas.
Estamos falhando com nossas crianças. Elas precisam ser preservadas, respeitadas e protegidas. Com sequelas que talvez nunca mais sejam curadas, nossas crianças precisam ser orientadas, assistidas, abrigadas e amparadas. Jamais julgadas por lobos e bruxas. O silêncio delas é o mais alto grito do mundo de “socorro, me ajude!”.
- Renata Abreu é presidente nacional do Podemos e deputada federal por São Paulo